‘Há menos individualidade e personalidade nas músicas de hoje’, afirma Yuzo Koshiro
Se existe alguém na indústria de games que eu possa apontar como responsável por me fazer gostar de trilhas sonoras de jogos, essa pessoa é Yuzo Koshiro. A partir do momento em que notei seu nome aparecendo na tela principal de um título — como na trilogia Streets of Rage e em The Revenge of Shinobi —, comecei a acompanhar de perto a sua obra; e também a pesquisar por nome e sobrenome os trabalhos de outros compositores, sempre me atentando à pessoa responsável por esse aspecto quando jogava algo novo.
Por conta disso, cresci ouvindo e assistindo gravações obscuras e em baixa qualidade de apresentações de Yuzo Koshiro no YouTube, com sets de discotecagem que mesclavam suas principais obras — de Streets of Rage a Wangan Midnight. Li suas entrevistas, apreciei sua participação no documentário Diggin’ in the Carts da RedBull e até mesmo produzi um perfil dele no The Enemy, quando fiz parte da equipe.
Passaram-se muitos anos (e sobrevivemos a uma pandemia nesse ínterim), e eu jamais imaginei que poderia conversar, cara a cara, com o mesmo Yuzo Koshiro que sempre admirei. O homem veio ao Brasil para divulgar Earthion, seu mais novo jogo, durante a RetroCon, e durante o bate-papo ele comentou sobre a experiência de viajar até o outro lado do mundo, onde ele é tão querido.
Embora não tenha tido a oportunidade de sair e conhecer a cidade de São Paulo como queria (já que estava atendendo seus compromissos no evento), Koshiro ficou “muito impressionado com o entusiasmo que os fãs mostraram”.
“Me disseram que eu tenho muitos fãs aqui no Brasil, mas eu nunca tinha vivenciado isso de fato. (...) É realmente inacreditável”. O compositor também expressou que “gostaria de, uma vez que o evento terminasse, aproveitar o resto do que a cidade tem a oferecer”. Espero que ele tenha conseguido sair e se divertir.
Indo para o lado mais técnico, questionei o que inspirou Koshiro ao trabalhar em Earthion, já que durante a época de Streets of Rage ele foi fortemente inspirado pela música de club e house para compor a trilha sonora. De acordo com ele, seu mais novo jogo se inspira bastante em um de seus jogos favoritos: Gradius, clássico do gênero shoot ‘em up (shmup). “Também há inspiração nos jogos de arcade da Sega da época, como Fantasy Zone e Space Harrier”, complementou o compositor.
Partindo disso, perguntei se existe algum gênero específico de games em que Koshiro queira ou gostaria de trabalhar: “eu já trabalhei com muitos gêneros, então não existe especificamente um tipo de gênero que eu realmente queira fazer”, ele respondeu.
“Mas nos últimos tempos eu tenho escutado música popular japonesa da era Showa, e as músicas de Vocaloid. E eu nunca fiz músicas para esses gêneros. Seria interessante tentar”. Koshiro ressaltou que o city pop está presente na sua playlist mais recente, e mencionou que tem ouvido bastante a Miki Matsubara, artista por trás de Mayonaka no Door (Stay With Me). “Gosto muito dessa faixa”, explicou.
Dado o gancho entre passado e presente, e o fato de que Koshiro usou seu próprio PC modificado para criar faixas para a trilha sonora de Streets of Rage e The Revenge of Shinobi, perguntei a sua opinião sobre vivermos em um mundo mais digitalizado e com fácil acesso às informações. Como é para ele compor faixas nesses tempos mais modernos? Será que a maneira como o compositor faz seu trabalho mudou muito?
“Muitas pessoas têm se tornado músicos bem jovens, mas uma coisa que observei é que mesmo que seja mais fácil fazer música hoje do que antigamente, há muito menos individualidade e personalidade nas músicas que estão saindo. (...) São muitas músicas saindo, mas é muito difícil distingui-las, e o que as torna únicas.”
Koshiro finalizou afirmando que quando faz músicas hoje, mesmo tendo acesso mais fácil às ferramentas, ele ainda presta “muita atenção para compor faixas que sejam únicas e distintas umas das outras”.
Disponível para PC (via Steam), já falei bastante do game no MotherChip — quando testei a versão de prévia na gamescom latam e após o lançamento, jogando a versão final. O game ganhará ainda versões digitais para Nintendo Switch, PlayStation 4, PlayStation 5 e Xbox Series X, previstas para setembro de 2025.
Além de Earthion, vale apontar que o músico também colaborou com Tee Lopes na trilha sonora de Shinobi: Art of Vengeance, e compôs duas músicas para Mina the Hollower, fazendo de 2025 um ano marcante para sua já consolidada carreira.